domingo, 20 de julho de 2014

SOMBRA DA VIDA


A terra guarda a poeira de nossas muitas existências que precederam. Quando a vida findar, na vizinhança do túmulo, não nos deparamos com nossos pais nem com nossos irmãos, nem com amigos de infância, mas sim, com a Consciência de nós mesmos. Sentimos com amargura que o vaso físico já repousa em cova profunda. Olhamos ao redor de nós e nada vemos, apenas ouve-se um ruído súbito, quando o vento ruge tempestuoso rompendo o véu do silêncio. O temor visita-nos tantas vezes, que nos raros e quase apagados vestígios de clareza, a lembrança de quando abdicamos da boa conduta, arraiga-se-nos as vísceras.
Nas veredas sombrias, o temor é o princípio do entendimento, todavia a falta de compreensão dispensa a sabedoria e as instruções dos bem-aventurados incumbidos de desvencilhar das veredas da expiação crucial àquele que não abriu os ouvidos às palavras do conhecimento.
A sabedoria adoça-nos a alma, todavia sem o estímulo dos mais evoluídos, os que cultivam a ignorância, o lume de a esperança se apagará e o enfado e a tristeza do coração, só tende a aumentar.
No templo carnal, negando-se a alegria, regaram seus dias com amargura porque seus corações não tiveram outra ocupação senão alimentar sentimentos impuros. Acreditaram no total esquecimento da vida terrena. No além-túmulo, ao deparar-se com a memória do passado, enlutados com a lembrança não percebem que o dia da morte por mais doloroso que lhes pareça, foi melhor do que o dia do renascimento na carne. Pelo olho pálido da consciência, assistem suas chegadas a vida corpórea. Sem nenhuma lembrança dos caminhos percorridos anteriormente, iniciam suas largas caminhadas em direção à morte, sem o conhecimento das existências findadas anteriormente.
 
O passado é uma valiosa herança que deixamos para nós mesmos, seja ele irrigado de alegria ou de tristeza, na morte, somos herdeiros das nossas próprias experiências. Coloridas pelo bem ou obscurecidas pela falta de entendimento, é um tesouro que adquirimos ao longo da extensa estrada do aprendizado.
 
Cada existência é uma dádiva divina; o incentivo necessário para a abençoada trajetória evolutiva do Espírito no santuário da carne.

Cumprir sobre a terra o destino do corpo, não deixa de ser uma prova terrível para o Espírito reencarnante. Com o pavio da memória da existência anterior apagado deixa se corromper pelo exclusivismo.

Sucumbido pelos falsos prazeres que a vida terrena nos oferece, esqueceu a prudência, e mantiveram os olhos bem abertos para a cobiça, e o coração fechado para o entendimento.  Ao invés de escolher a estrada margeada pelas flores, iniciou a marcha pela vereda de urtigas. Quando o corpo descer a cova, pelas brechas da aflição, flechas amargas da impureza arrancar-lhe-ão dos olhos lágrimas.

Consternado, conscientizar-se de que o esquecimento não lhe foi eterno. Cheio de culpa, apiedando-se de si próprio, se entrelaça aos braços impiedosos do passado.

Quem semear espinheiro de ódio não espera colher flores abluídas com amor. A sementeira do bem, não dará frutos venenosos. O virtuoso acolherá o bem, mas o que fere com a espada da maldade, será asilado em trevas até que o arrependimento faça escorrer-lhe no rosto torrentes de lágrimas.

Cada passagem pela Terra é uma etapa evolutiva. O Espírito motivado pelo Processo evolutivo desceu a Terra para cumprir na carne as provas que lhe foram designadas. Retornar à Pátria Espiritual com a “bagagem” escassa de conhecimento, imediatamente começará a trabalhar a possibilidade de um novo recomeço na matéria para reparação das suas falhas.

Da árvore do conhecimento, colhe-se sabedoria, todavia da árvore da ignorância colhe-se imperfeição regada de inquietação que lhes consumirás as forças.

 Sem se aperceber da situação dolorosa em que se acha, permanece entrelaçado aos braços da ignorância, sujeito a influencia das trevas. Confinado ao berço dos defeitos morais, se mantêm distanciados dos Espíritos benévolos dispostos a lhe ensinar o bem, semeando-lhe o coração com sementes gloriosas do amor irrigadas pelo orvalho da compaixão.

Além dos cubículos trevosos da imperfeição, resplandece a luz do conhecimento, intensa e bela, todavia exige de nós alinhado aprimoramento para a travessia da porta de acesso as claridades da sublimação. No seio acolhedor dos abnegados irmãos de vida eterna, as oportunidades benéficas surgem como luz de entendimento.
Texto do Livro Degraus da Vida- Rozalia P. Nakahara

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