sexta-feira, 22 de março de 2013

O OUTONO

Quando o pálido e pródigo outono, com largueza,
Abandona nos campos, num noite de embriaguez,
Seus ricos tesouros, as frutas maduras no pomar,
Os cachos de uvas nas parreiras, e seus perfumes sutis,
O córrego puro volta a irrigar o prado
E volta a cantar a sua canção às margens umidecidas;
O sopro dos zéfiros, morno como na primavera,
Derrama nos roseirais amarosos os seus cantos;
A folha do arbusto, tombando sobre a terra,
Parece procurar mais longe e bosque e seus mistérios;
O pastor matinal conduz seus rebanhos
Nos prados, soprando suas flautas ligeiras;
A andorinha, que voeja em frente à janela,
Quer rever o telhado que a viu nascer:
Dar-se-ia que seu canto triste e misteriosos,
Aos moradores da casa, quer dizer seus adeuses;
A abalha, ao pino do dia, bordeja na latada
E se embriaga nos perfumes que a embriagaram na véspera.
Desde que a fresca manhã, branqueado o horizonte,
Com seus primeiros raios, acorda a habitação,
A jovenzinha se levantou e logo, em caminho,
Debulhando a canção que cada aurora escuta,
A podadeira à mão, as saias arrepanhadas,
à vinha ela acorre. _ Seus pés nus lavados
Pelo orvalho rosado. Alerta e corajosa,
Ela é vista nas fileiras ramalhando ao vindimador
Que se diverte a conversar sem encher seus cestos;
O pai, um pouco além, comanda os obreiros;
Os sulcos são revistos duas vezes pela vovó
Que recolhe, ao passar, os grãos caídos na terra;
O rapaz, em casa, arranja os tonéis gorduchos,
As esteiras estendidas para deitar as uvas,
A criança lança, brincando, o estalo de um riso feliz
Ao redor da velha espremedeira, que sob seus pés suspira,
Já, nas bacias, o vermelho licor.
Faz escoar suas ondas de ouro; sua espuma cheirosa
Leva ao longe os perfumes e sua branca fumaça.
Todo mundo já voltou. _ Cada um experimenta, à sua vez,
Cantando uma canção, o vinho novo do dia.
Não lhe parece que Deus, na sua grandeza
Não quis misturar a alegria e a tristeza?
ECOS POÉTICOS - L VAVASSEUR

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